8 questões para a próxima década
Report do KES vai do capitalismo de vigilância ao otimismo radical
O KES, uma plataforma de conteúdo de inovação que tem como pilares tecnologia, comportamento e criatividade, completou dez anos nesta semana e publicou um relatório com "oito grandes questões" para a próxima década. Seu detalhamento demandaria mais espaço que o razoável aqui, mas há ideias que merecem destaque - recorte meu, não necessariamente em linha com o do próprio KES. Exemplo: 80% das tarefas de codificação poderão ser automatizadas por IA até 2030. Isso enseja um cenário que eles chamam de Autonomia Artificial. Que deve por em cena agentes de IA com funções executivas. E cria um dilema: "Até que ponto abrimos mão de autonomia por conveniência?".
Capitalismo de Vigilância - "O boom da Inteligência Artificial apresenta novos desafios para a privacidade", observa o KES. "Nossas informações pessoais fazem parte dos dados de treinamento de um modelo? Nossos prompts estão sendo compartilhados com as autoridades policiais? Os chatbots conectarão diversos tópicos de nossas vidas online e os enviarão para qualquer pessoa?”
85% dos usuários de smartphones acreditam que empresas de tecnologia os espionam;
só 29% das pessoas entendem como empresas protegem seus dados.
"O que vai definir se o futuro será próspero ou ruim é a capacidade de controlar nossos dados", observa o relatório. A chamada integridade digital é um luxo para quem pode pagar por ela. Países e populações pobres são mais vulneráveis.
Perguntas:
As big techs devem mesmo ser as maiores donas de dados no mundo?
Como seria um mundo em que a privacidade é prioridade inegociável?
Queremos construir um futuro centrado na tecnologia ou nas pessoas?
Guerra de narrativas
“As tecnologias que moldam o ecossistema das informações redefinem a experiência humana. Estamos no curso de uma revolução causada pela IA que vai impactar não apenas como vivemos, nos informamos e fazemos negócios, mas também como definimos o que é verdadeiro e o que não é", afirma Nina Schick, jornalista e autora de “Deepfakes: The Coming Infocalypse.” Com a fragmentação da verdade, a realidade vira um produto estético — algo que se escolhe consumir ou não, com a garantia de que, se não agradar, sempre haverá outra versão mais alinhada aos nossos gostos e interesses. "O campo multidisciplinar que estuda os riscos sociais, econômicos e éticos da IA tende a crescer nos próximos anos", observa o KEA. "Tanto nos setores público quanto privado, debates sobre preconceito, privacidade, desinformação e ameaças tendem a tornar se mais presentes." Há necessidade de alinhamento entre desenvolvimento de IA e valores humanos. "O sucesso das organizações estará ainda mais ligado à qualidade dos dados a que se tem acesso", nota o relatório.
Otimismo radical- “Um dos maiores desafios que temos como espécie hoje é que as histórias que nos contamos sobre o futuro são predominantemente negativas. Por exemplo, que a mudança climática vai destruir todos nós", pondera Pascal Finette, tecnólogo que liderou o Open Innovation Lab do Mozilla e, como diretor do Google.org, investiu em organizações de impacto social em todo o mundo. "É claro que existem muitos problemas e muitas coisas precisam ser resolvidas. No entanto, sem a habilidade de projetarmos uma versão positiva do futuro, nunca vamos construir uma versão positiva do futuro. Se você é um atleta e diz que nunca vai conseguir correr mil metros, você nunca vai correr dez mil metros.”
"O excesso de positividade pode ser alienante e até intoxicante. O pessimismo também tem esse poder", observa o KES. “O desafio é cultivar uma postura propositiva e esperançosa que não seja alienante.” Nada é tão urgente quanto “narrativas que capacitem as pessoas a agir”, nas palavras da jornalista americana Elizabeth Kolbert, da New Yorker. "O gap entre o pensamento positivo e a realidade é enorme - o trabalho é fechar esse gap", observa o KES.
Rotatividade maior na Geração Z
A rotatividade do mercado de trabalho atingiu patamar recorde no Brasil: 36% dos trabalhadores com carteira assinada mudaram de emprego nos últimos 12 meses. A taxa era de 25% há cinco anos. A rotatividade no mercado de trabalho é maior na Geração Z, segundo segundo estudo realizado pela LCA Consultores.
"Em fevereiro deste ano, cerca de 40% dos profissionais com até 29 anos de idade haviam trocado de emprego nos 12 meses anteriores", escreveu Fábio Matos no Metrópoles. São os integrantes da Geração Z, "que vêm se inserindo cada vez mais no mercado de trabalho e imprimindo um modo peculiar de lidar com suas responsabilidades no ambiente corporativo". Considerando apenas a faixa etária entre 18 e 24 anos, o índice salta para 41% (eram 22% em 2020). Entre os jovens de até 17 anos, o percentual de rotatividade chega a 42% (ante 30% há 5 anos). De acordo com especialistas ouvidos pelo Metrópoles em reportagem publicada no fim de março, as empresas, de forma geral, ainda têm muito a fazer para se conectar efetivamente com a Geração Z, de modo que consigam mobilizar esse grupo em torno dos objetivos do negócio. Cinco anos após o início da pandemia, um dos pontos de atrito mais sensíveis entre empregados e empregadores (nesse caso, não apenas da Geração Z) continua sendo o formato de trabalho – 100% presencial, híbrido ou home office. "Para os funcionários mais jovens, a possibilidade de um modelo mais flexível, sem horários tão rígidos, é um dos diferenciais mais atrativos que uma empresa pode oferecer", pondera a matéria.
“Grande parte do retorno ao trabalho 100% presencial é exigência da cabeça da Geração X e dos baby boomers”, diz Carla Beni, da FGV.
“Também existe uma situação financeira em questão, que é muito pouco abordada. As empresas já imobilizaram capital, construíram prédios, têm salas para reuniões e precisam dar uso a isso. Abrir mão do que compraram faz com que as empresas queiram colocar as pessoas de novo sentadas na cadeira para trabalhar, mesmo sabendo que a produtividade não aumenta necessariamente”, explica Beni. “Você vai vender o prédio? Vai vender metade do prédio?” Uma pesquisa da consultoria imobiliária JLL indica que a taxa de vacância (percentual de imóveis comerciais disponíveis para locação) vem caindo de forma gradativa nos últimos anos, se aproximando dos níveis pré-pandemia. Segundo estimativa da McKinsey, a Geração Z já responde por 27% da força de trabalho global. Esse percentual chegará a 30% nos próximos cinco anos.
Mães no mercado de trabalho
A maternidade ‘empurra’ as mulheres para o mercado de trabalho informal, afirma uma reportagem do Valor. O fenômeno decorre de falta de flexibilidade no emprego formal e de normas sociais que preveem maior carga de tarefas domésticas para mulheres. Para economistas, uma maior provisão de creches em horários estendidos e o aumento da licença-paternidade poderiam contribuir para reduzir o problema. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua, compilados por Janaína Feijó, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas, mostram menor taxa de participação de mulheres mães no mercado de trabalho, assim como maior nível de informalidade dessas, em comparação a mulheres sem filhos e homens pais e sem filhos. “As mulheres mães estão mais propensas a entrar na informalidade. E um fenômeno que observamos é que 50% das mulheres que tiram licença-maternidade não retornam depois para o mercado formal”, diz Feijó, economista da FGV.
"Ou param de trabalhar ou vão para o mercado informal, que tende a ser mais flexível e permite conciliar trabalho com maternidade.”
Em tese, à medida que a criança vai crescendo, espera-se que essa mulher possa voltar para o mercado formal. Mas nem sempre é isso o que ocorre.
“Como essa mulher está há muito tempo fora do mercado, acaba optando por permanecer com um vínculo informal”, diz Feijó. Isso tem consequências.
“Se pegarmos a média entre os grupos informal e por conta própria, vemos que quase um terço das mulheres trabalha menos que 30 horas por semana como por conta própria e 5% no setor formal. Parece que existe a necessidade de se trabalhar menos horas para conseguir compatibilizar o cuidado com filhos”, afirma Lucas Finamor, professor de economia da Fundação Getulio Vargas (FGV).
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